Reforma da Previdência x Profissionais de Segurança e Saúde do Trabalho

A Reforma da Previdência é um assunto que vem sendo discutido amplamente por todo o país.

Apesar de o assunto ser muito interessante, não vamos aqui entrar no mérito de a reforma ser justa ou não.

A quem se interessa por isso (e também por finanças pessoais, orçamento doméstico e tal), recomendo que acompanhe nosso outro blog:

https://economiaemcasa.com.br/

Mas voltando à SST, o fato é: os brasileiros terão que trabalhar até cada vez mais tarde.

Isso pode ser até viável para pessoas que exercem funções administrativas, mas e para quem está no chão de fábrica? Nas obras? Nas plantações?

É otimismo demais pensar que o país conseguirá qualificar toda essa massa de trabalhadores a um ponto em que eles exerçam funções apenas “intelectuais”. 

O mais provável é que as pessoas continuem exercendo (ou tentando exercer) seu ofício, e precisando de seus salários para sobreviver. 

É justo? É injusto? Novamente: não vamos entrar nessa discussão aqui.

O que podemos ver, diante dos fatos, é que o prevencionista poderá ser de grande ajuda para essas pessoas – e, em consequência, para o país.

Mantendo a capacidade de trabalhar

A manutenção (ou a perda) da capacidade de trabalho, exceto nos casos de acidentes típicos, é algo que acontece dia após dia.

Se meu posto de trabalho me força a adotar posturas desconfortáveis, posso a cada dia estar prejudicando um pouco o meu corpo, até um ponto em que minha condição poderá ser intolerável…

Se em meu posto de trabalho estou exposta a agentes físicos ou químicos, posso estar a cada dia prejudicando minha audição, meus pulmões, e até desenvolvendo algum tipo de câncer…

Se a organização do trabalho não considera que sou um ser humano e me provoca sofrimento, minha mente poderá adoecer também, além do meu corpo.**

Como podemos esperar que as pessoas trabalhem até os 65 anos assim? Que tipo de vida elas terão?

Nesse contexto, não resta outra alternativa ao país:

Devemos trabalhar em soluções que preservem a saúde e a capacidade física dos trabalhadores.

Às vezes as soluções podem ser simples, como as apresentadas na publicação Pontos de Verificação Ergonômica, que já discutimos aqui:

https://www.sabersst.com.br/pontos_verificacao_ergonomica/

Em outras atividades, teremos que “forçar” a evolução do nosso mercado. Veja esse vídeo, que está no canal do HSE:

É uma mesa com extração. A memória pode estar me traindo, mas não lembro de ter visto uma dessas por aqui… 

Veja também essa notícia:

https://www.tecmundo.com.br/mercado/124145-exoesqueleto-reduz-fadiga-muscular-testado-funcionarios-ford.htm

Trata-se do uso de exoesqueletos por trabalhadores em montadoras, a fim de reduzir o seu esforço. Antes que os amigos ergonomistas reclamem, já deixo claro que sei que não devemos esquecer da hierarquia das medidas de prevenção/controle, e deixo um link com um artigo com reflexões sobre o tema:

https://osha.europa.eu/pt/tools-and-publications/publications/impact-using-exoskeletons-occupational-safety-and-health/view

Enfim, esses foram apenas exemplos.

O prevencionista é quem deverá analisar com cuidado os postos de trabalho, ouvir as queixas dos trabalhadores, analisar os dados médicos… 

Assim, ele poderá entender os problemas que existem na sua empresa.

Entendidos os problemas, o prevencionista deve pesquisar as soluções!

E “pesquisar” não quer dizer chamar um vendedor de EPIs. ?

É ler, ver o que se faz lá fora, criar demanda para nosso mercado.

Essa mudança de postura – de todos – é urgente!

E agora?

Mais uma vez: não é objetivo desse artigo comentar sobre a reforma ser justa ou não.

Enquanto se luta contra o que se considera injusto, temos que encontrar um jeito de viabilizar a vida daqueles que PRECISAM trabalhar e não tem tempo ou saúde para esperar o desfecho dessa luta.

Devemos decidir em que tipo de sociedade queremos viver: uma em que as pessoas importam, ou em uma em que as pessoas sejam artigos descartáveis.

Prefiro viver na primeira. 🙂

Ouvir as pessoas que trabalham, estudar as melhorias possíveis em processos, equipamentos e procedimentos, apresentar essas sugestões para a empresa de maneira “sedutora”… Tudo isso está ao nosso alcance.

Não sou iludida a ponto de pensar que se todos os prevencionistas se esforçarem, o mundo do trabalho será ótimo.

Infelizmente, não será.

Mas certamente será MELHOR. E isso já ajuda. ?

Façamos todos um bom trabalho!


** Sobre esse assunto, o livro Introdução à Ergonomia – da prática à teoria tem um parágrafo ótimo (pg 71), que gostaria de compartilhar:

Este conflito entre o humano adequado ao sistema de produção, que seria um não-humano, e os seres humanos reais, os sujeitos, pode explicar, em boa parte, o sofrimento que se encontra em muitas situações de trabalho. Tantos acidentes e doenças poderiam ser explicados considerando-se que no modelo de produção clássico (taylorista-fordista) está prevista a inserção de um pseudo-humano, ou um humano em parte, talvez o esboço de um robô.

Já recomendamos esse livro nesse post sobre Ergonomia, e sugerimos a leitura:

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

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