O que é Ergonomia? Por que a tratamos tão mal?
Um dos temas mais discutidos e populares no ambiente prevencionista é a Ergonomia.
Isso se deve, em parte, ao fato de ela ter um apelo que vai além da saúde no trabalho, sendo também associada a conforto e qualidade de vida.
No entanto, por ser tão abrangente, às vezes ela sofre “maus tratos” de muita gente, que pensa que Ergonomia é só ajustar cadeira, teclado e monitor. Ou então fazer checklists com o pomposo nome de “Análise Ergonômica do Trabalho”, sem qualquer preocupação com o método…
Hoje vamos discutir alguns conceitos importantes sobre Ergonomia, o que ela deveria ser e o que ela não é. Ao final desse artigo, você deverá:
- Entender o que realmente é Ergonomia;
- Aceitar que dedilhar o Parabéns a Você no piano não faz de ninguém um pianista.
Vamos lá!
O que é Ergonomia?
Segundo as principais sociedades científicas na área. como a ABERGO e a SELF:
Ergonomia é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema.
O objetivo do ergonomista vai muito além de adequar o mobiliário. Ele deve transformar o trabalho, adaptando-o às características e variabilidade do homem e do processo produtivo1.
As questões de mobiliário têm seu lugar na ergonomia física, que tem forte envolvimento com aspectos como antropometria, fisiologia e biomecânica. A análise das posturas e movimentos pode ser auxiliada por ferramentas bastante conhecidas no mercado.
As questões ligadas aos processos de tomada de decisão, interação com máquinas e outras que envolvam processos mentais estão no campo da ergonomia cognitiva. Já a ergonomia organizacional aborda aspectos ligados à organização do trabalho e às políticas das empresas.
Assim, o ergonomista precisa desenvolver uma visão bastante ampla, que lhe permita avaliar as formas de interação entre as atividades executadas pelos trabalhadores, a comunicação e a hierarquia no trabalho, os objetivos da empresa, os meios disponibilizados aos trabalhadores e as características dessas pessoas (considerando também a variabilidade). Não é simples!
Se a tentativa de transformação for mal executada, pode piorar as condições de trabalho – como já vi algumas vezes. E não é isso que queremos, certo?
Parece difícil, mas não é impossível!
Sejamos honestos: o fato de alguém ter um pianinho infantil em casa e dedilhar o Parabéns a Você não o torna um pianista, certo?
No entanto, muita gente pensa que apenas por conhecer uma ferramenta (como REBA, OCRA, método NIOSH, OWAS, RULA, Tor-Tom etc), já é ergonomista…
Ergonomia exige estudo, repertório e habilidade.
O motivo de precisarmos estudar é bastante óbvio.
Já o repertório é a nossa bagagem. Conforme conhecemos diferentes locais e atividades, vamos vendo soluções diferentes e prevendo os buracos de possíveis idéias “brilhantes” que venhamos a ter…
E habilidade, porque é fundamental ser um bom observador e ter prazer em conversar com todos os envolvidos, desde o trabalhador de menor posição hierárquica até a alta direção.
São eles que estão ali no cotidiano, e que sabem o que realmente acontece no local de trabalho. As burlas, as adaptações, as coisas que causam sofrimento físico e mental… Coisas que em uma rápida passagem pela empresa jamais saberíamos!
Todas essas características – inclusive de comportamento – podem ser trabalhadas. É só entender a necessidade e correr atrás!
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Façamos todos um bom trabalho!
Observação:
Os autores do livro Introdução à Ergonomia: da Prática à Teoria fazem uma ressalva muito pertinente. O ergonomista não deve se negar a atender demandas simples, como determinar as melhores cadeiras, altura de bancada, apoios para digitação… isso porque a demanda pode ser apenas a ponta do iceberg, dando a oportunidade de desvendar e explicitar as outras dimensões do trabalho responsáveis pelas questões relativas à saúde a à produção1.
Fonte:
- Introdução à Ergonomia: da Prática à Teoria. Autores: Júlia Abrahão, Laerte Sznelwar, Alexandre Silvino, Maurício Sarmet e Diana Pinho. Editora Blucher.