Exposição Ocupacional ao Calor e Estresse Térmico: Por Onde Começar?

Entre as maiores reclamações dos trabalhadores que exercem atividades que envolvem esforço físico está a exposição ao calor.

Atividades em setores fisicamente exigentes como a construção civil, a agricultura e a indústria se tornam ainda mais difíceis durante os meses mais quentes do ano.

Muitas vezes, o prevencionista é pego desprevenido pela reclamação do trabalhador. Por onde começar? Que índice utilizar para avaliar se há sobrecarga térmica? Como amenizar a situação do trabalhador?

Discutiremos tudo isso em uma série de artigos sobre a exposição ocupacional ao calor. 😉

Ao final desse primeiro artigo, você deverá saber:

  • O que é o calor e como o corpo o produz e o recebe;
  • Quais os efeitos do estresse térmico (heat stress) sobre o corpo humano.

Dominar esses conceitos é fundamental para entender melhor os índices utilizados na avaliação da exposição e as medidas de controle adequadas. Assim como nos projetos de ventilação local exaustora, erros nessa área podem custar caro. 😉

Vamos lá!

O que é o Calor?

Por definição,

Calor é a energia térmica transferida entre dois corpos que estão a temperaturas diferentes.

Em algumas situações, o calor excessivo pode provocar uma sobrecarga no nosso organismo. De maneira bem geral, a sobrecarga térmica pode ser entendida a partir da equação a seguir.

Sobre essa equação, vale destacar os seguintes aspectos:

  • Quando o valor de S é positivo, temos uma hipertermia; quando é negativo, temos uma hipotermia.
  • A radiação é responsável pela maior parte das trocas térmicas;
  • A evaporação do suor é o único meio de perda de calor quando a temperatura do ambiente é maior do que a temperatura do corpo.

Quais os efeitos do calor sobre o corpo humano?

Quando submetido ao calor excessivo, nosso corpo tenta “devolver” calor para o ambiente, para manter a temperatura do seu núcleo. Isso, basicamente, é feito através de dois mecanismos de compensação:

  • Aumentando o fluxo sanguíneo, que transporta o calor do núcleo do corpo para a sua periferia;
  • Aumentando a sudorese.

Nesse contexto, o suor é benéfico. Medidas que prejudiquem a evaporação do suor devem ser evitadas, como veremos no próximo artigo.

Em algum nível de estresse térmico, porém, nossos mecanismos de compensação não são mais capazes de manter a temperatura ideal do corpo.

Então, dependendo da intensidade, pode haver enjoo, dores de cabeça, desidratação, tonturas e cãibras. Em casos mais graves, pode haver convulsões, delírios e coma.

Observe que esses são efeitos concretos e graves, não sendo “frescura” ou apenas aquele desconforto que enfrentamos em uma sala sem ar condicionado…

É fundamental, logo, que estejamos atentos aos primeiros sinais de estresse térmico. Assim, poderemos adotar as medidas de controle adequadas e evitar os efeitos mais graves da exposição ocupacional ao calor.

Em que situações de trabalho podemos observar esses efeitos?

Vejamos um exemplo apresentado pelo HSE, para encaixar esses conceitos em uma situação real.

Vamos pensar em um trabalhador chamado João, utilizando suas vestimentas de proteção e seus EPIs. João está em um ambiente bastante quente e úmido, e realizando uma atividade pesada.

A umidade do ar e as roupas do João restringem a evaporação do seu suor. Ao mesmo tempo, a atividade pesada vai aumentando o calor produzido pelo seu metabolismo (se preciso, veja de novo a equação da sobrecarga térmica)…

Como a evaporação do seu suor é prejudicada (equação de novo!), ele não consegue perder calor suficiente; assim, a temperatura do núcleo do seu corpo vai aumentando.

Conforme aumenta a temperatura do corpo, aumenta a produção de suor, e isso poderá deixar João desidratado. O aumento da frequência cardíaca também está colaborando para que o organismo do João esteja bastante pressionado…

Se a jornada de trabalho avançar sem que essas condições mudem, a tendência é que a temperatura do núcleo do corpo do João siga aumentando… Podemos até chegar a um ponto em que esses mecanismos de controle comecem a falhar, e as consequências poderão ser graves ou fatais.

Em 2012-2013, pelo menos 13 trabalhadores morreram nos Estados Unidos por consequência da sobrecarga térmica, segundo artigo publicado pelo CDC com base nos registros da OSHA.

E por aqui, como estamos? Quantas mortes atribuídas a um “mal súbito”, especialmente em atividades pesadas como a construção civil e o corte de cana, podem na verdade ter tido origem na sobrecarga térmica? :-/

Conclusões

Do que foi dito, é importante que você não esqueça que:

  • O estresse térmico – e, por consequência, sua avaliação e efeitos – é diferente do “desconforto térmico”;
  • A sudorese é uma reação preciosa do corpo ao estresse térmico. Esse entendimento será importante quando discutirmos o efeito das roupas e a necessidade de hidratação e reposição salina (sempre sob supervisão médica!) para os expostos.

No próximo artigo, discutiremos as principais variáveis de interesse quando tratamos de stress térmico, os índices utilizados na avaliação (como IBUTG, TGU, IST…) e as diferenças entre eles.

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Façamos todos um bom trabalho!

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

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