Classificação de Agentes Químicos

Você às vezes tem dúvida se deve escrever poeira ou aerodispersóide? Névoa ou neblina? Não quer pagar o mico de confundir gás com vapor no Inventário de Riscos do PGR?

Você não está sozinho! Afinal, a classificação de agentes químicos é um assunto que ainda causa muitas confusões.

Discutir o assunto não é uma questão de preciosismo. Entender as diferenças físicas entre os agentes químicos é fundamental para poder selecionar a proteção respiratória adequada aos riscos e, também, para não cometer erros conceituais básicos nos documentos que produzimos.

O profissional de SST deve ter cuidado com os termos que usa! “Sério que ele escreveu “pó”?!?!”

Ao final desse artigo você deverá saber:

  1. O que são aerodispersoides, neblinas, vapores, névoas, fumos, poeiras, gases e vapores;
  2. Como isso fará diferença na seleção dos equipamentos de proteção respiratória.

Vamos lá!

Classificação Física dos Agentes Químicos

A classificação de agentes químicos que mais utilizamos em nosso cotidiano é baseada em seu estado físico.

O primeiro grande grupo é o dos materiais particulados, ou aerodispersóides. Nesse grupo, os contaminantes são partículas sólidas ou líquidas dispersas no ar.

Particulado Sólido: Poeiras, Fumos e Fibras

As poeiras são partículas sólidas formadas pela ruptura mecânica de um sólido. Como exemplo de atividade onde há exposição a poeiras, podemos citar o corte de pedras (como nas marmorarias), o corte de madeira etc.

Diversas são as doenças provocadas pela exposição a poeiras. Uma das mais conhecidas é a silicose, provocada pela exposição a sílica livre cristalina.

Os fumos, por sua vez, são partículas sólidas formadas pela condensação/oxidação de vapores de substâncias sólidas a temperatura normal. As operações mais comuns onde há a presença de fumos são as de soldagem e fundição.

Entre os particulados sólidos, também podemos destacar as fibras. Segundo a NHO-04, as fibras podem ser definidas como longos e finos filamentos de um material. Entre os exemplos que encontramos em nossa atividade, destaca-se a do amianto.

Particulado Líquido: Névoas e Neblinas

A névoa é uma suspensão de partículas líquidas formadas pela ruptura mecânica de líquidos. O exemplo mais comum de névoa é aquele formado nas operações de pintura com pistola.

Já a neblina é a suspensão de partículas líquidas formadas pela condensação do vapor de uma substância que é líquida na temperatura normal.

É muito comum a confusão de névoa e neblina com vapor. Mesmo que o vapor acompanhe a névoa, são distintos. Isso será fundamental quando da seleção de filtros para os respiradores.

A classificação dos aerodispersoides pode ser resumida na figura a seguir.

Classificação de Agentes Químicos Aerodispersóides

Gases e Vapores

Além dos aerodispersoides (particulado sólido ou líquido), podemos ter também contaminantes na fase gasosa.

Se esse contaminante, em condições normais, já estaria no estado gasoso, estamos diante de um gás.

Se, no entanto, o contaminante é um líquido em condições normais, sua fase gasosa será chamada de vapor.

De acordo com suas propriedades químicas, os gases e vapores podem ser classificados, resumidamente, como orgânicos, ácidos, alcalinos e inertes.

Essa classificação, fundamental para a seleção de filtros químicos, é apresentada na figura a seguir.

Classificação Química de Gases e Vapores

Alguns gases e vapores, porém, exigem filtros especiais. É recomendável sempre consultar as FISPQ dos produtos e as recomendações dos fabricantes dos filtros.

Por que preciso conhecer a classificação dos agentes químicos?

Entender a classificação dos agentes químicos é fundamental para elaborar um Programa de Proteção Respiratória adequado e evitar erros básicos.

É muito comum encontrar um trabalhador exposto a vapores orgânicos utilizando um respirador do tipo PFF2, por exemplo.

Deve-se sempre consultar o Certificado de Aprovação do EPI. O equipamento aprovado apenas para proteção contra “poeiras, névoas e fumos” (como costuma constar no CA)  não está aprovado para proteção contra vapores orgânicos. 😉

Para isso, deve ser utilizado um filtro químico adequado. Se houver também exposição a algum aerodispersoide, utiliza-se a combinação de filtro químico com filtro para particulado (ou “filtro mecânico”, como muitos chamam).

Sugiro que, se você tiver uma máscara PFF2 por perto, consulte o CA. Talvez você tenha uma surpresa.

Conclusão

Muitas vezes, diante das muitas tarefas que temos que desempenhar, acabamos esquecendo de alguns conceitos básicos, mas que podem prejudicar nossas ações para proteção da saúde dos trabalhadores.

Consolidando essa conversa, a classificação dos agentes químicos segundo suas propriedades físicas é resumida na figura a seguir.

Classificação Física dos Agentes Químicos

Conhecer essa classificação é fundamental para a execução do Programa de Proteção Respiratória. Que tal aproveitar também para ler um pouco sobre os ensaios de vedação?

Temos sempre muito a aprender! E, por vezes, recordar conceitos que aprendemos há muito tempo atrás também é necessário… 😉

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Façamos todos um bom trabalho!


E como a vida não é só SST, compartilho o que tenho lido de bom. 🙂

Façamos todos um bom trabalho!

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

46 Resultados

  1. Anderson disse:

    Acabei de conhecer esse site, já fiquei muito entusiasmado com o nível de conhecimento e a qualidade do conteúdo, professora, parabéns pelo belíssimo trabalho. Vou acompanhar sempre, sempre aprendendo!

  2. Dave disse:

    Vc tinha que ter sido minha professora no curso de TST

  3. joão gomes disse:

    exelentes materias sobre SST gostaria se possível de dicas para prova de concursos públicos obrigado

  4. Ana paula disse:

    conteúdo muito bom, mas seria ainda melhor se mostrasse doenças relacionadas, tratamentos e medidas de prevenção, ficaria ainda mais rico.

  5. Paulo disse:

    Excelente!

  6. Maria Cristina disse:

    Professora parabéns pelo site.Uma duvida .Tem uma fábrica “misteriosa “de produtos químicos ao lado da minha residência e ultimamente no horário determinado a minha residência fica com cheiro semelhante à odor de urina e as vezes lixo..tem certeza que é algum gás emanado da fábrica porque toda a residência fica comprometida com este odor e não há nada que possa explicar isso a não ser um gás emanado.Estou muitíssimo preocupada e aonde posso obter ajuda …desde já obrigada.

  7. Ailane disse:

    Olá, o pó de cimento se encaixa em poeiras?

  8. Patrícia disse:

    Qual a diferença exata de neblina e névoa?

  9. Wagner disse:

    O solvente pode ser considerado então vapor orgânico, é isso? estava a procura de um respirador descartável, pois trabalho numa indústria gráfica com 300 operadores, e cada respirador custa em média 150 reais. Fica inviável a aquisição! Será que já inventaram um PFF (1) (2) ou (3) para vapores orgânicos já? rssss Abraços e excelente matéria. parabéns,

  10. Luiz disse:

    Olá Cibele, gostaria de tirar uma dúvida!

    Afinal, a poeira de sílica livre, consoante os anexos da NR 15, é um agente químico ou uma poeira mineral? Ou as duas coisas? Hehe
    Obrigado!

  11. Xico disse:

    Olá boa tarde! Tenho uma dúvida em relação aos agentes nocivos.. Você pode me ajudar?

    Vamos lá:
    O carvão mineral é um hidrocarboneto?
    Caso seja um hidrocarboneto, a exposição à poeira mineral do carvão é considerada uma exposição ao hidrocarboneto?
    Suas respostas são de extrema importância para mim! Desde já lhe agradeço!
    Tenha um bom final de semana!

  12. Paulo Hirakawa disse:

    Parabéns pelo trabalho apresentado!

    Muito agregador os conteúdos postados.

  13. Daniele disse:

    Amei. Obrigada!

  14. ivani Moreira disse:

    qual proteção respiratória para industria onde os funcionários limpam peças com álcool ou tinner?

    • Cibele Flores disse:

      Ivani,
      Não trabalhamos com consultoria. A ideia do site é apresentar informações e fontes de pesquisa, para que os colegas prevencionistas possam tomar suas decisões com autonomia e bom embasamento técnico. 😉
      Bom trabalho!

    • Israel Godoi disse:

      Boa Tarde Ivani.

      Não sou do site mas posso te ajudar.

      Primeiramente você deve identificar os produtos e as suas respectivas marcas. Com essa informação você deverá ir atrás da FISPQ destes produtos (Ficha de Informação de Segurança para Produtos Químicos). Você localiza facilmente na internet, caso não ache, entre em contato com o fabricante destes produtos. Se o fabricante se negar a fornecer, substitua os produtos por de outro fabricante que possua a FISPQ e a disponibilize.

      Em posse da FISPQ, no “Item 8 – CONTROLE DE EXPOSIÇÃO E PROTEÇÃO INDIVIDUAL”, vão estar listados todos os tipos de proteção para uso do produto em questão, inclusive os EPI’s.

      Espero ter ajudado, tenha um ótimo trabalho.

  15. Maria disse:

    Com suas explicações estou tirando minhas dúvidas que não consigo em sala de aula!obrigada

  16. Ana Paula Silva disse:

    boa tarde, tive alteração no ar atmosférico coletado em vários pontos de trabalho, somos uma empresa moveleira com utilização de pinus e MDF, agora vem a duvida o que fazer? gostaria de uma sugestão

  17. JESSICA FERNANDES SILVA disse:

    Sensacional!

    Mas pode me tirar uma dúvida?
    Quando é correto apontar o agente químico “puro” ou apontar os vapores, nevoas dentre outros?
    Por exemplo, o colaborador trabalha diretamente com xileno, devo apontar o risco de exposição a xileno ou vapores orgânicos e informar que a fonte geradora é o xileno, ou devo apontar ambos, o que determina o apontamento correto da exposição?

    • Cibele Flores disse:

      Olá,
      Não confunda o “agente” com a forma em que ele está presente no ambiente de trabalho. Os vapores do xileno continuam sendo xileno. É interessante apontar o agente químico e a forma (névoa e vapor, por exemplo), porque isso influencia na seleção das medidas de controle, como proteção respiratória. Se você reconhece a exposição a vapor e a névoa, você “reconhece” que precisa de um filtro para aerodispersóides e para gases/vapores.
      Abraços!

  18. Augusto disse:

    Cibele… Boa noite

    Mesmo se a exposição a poeiras vegetais (De madeiras) estiver abaixo dos limites devemos realizar o raio x e espirimetria conforme dita o quadro II da NR 7?

  19. Carolina Pellin disse:

    Boa tarde, primeiramente queira agradecer pelo ótimo conteúdo que acabei de ler! Segundo, tenho uma dúvida: estou estudando para concurso público e um dos temas do edital é: “Vapores orgânicos e inorgânicos”. Pela leitura do seu texto eu entendi o que são os orgânicos, mas a minha dúvida é: os inorgânicos são os ácidos, alcalinos e inertes? Se não for, porderia me explicar, ou indicar uma leitura sobre o assunto? Muito Obrigada!

  20. maria terezinha honorio disse:

    Excelente conteúdo.
    Peço sua ajuda no sentido de definir o EPI adequado para profissionais que administram quimioterápicos em pacientes com câncer. Alguns destes medicamentos, administrados via endovenosa (na forma líquida) são voláteis, p. ex. ciclofosfamida, e lendo seu material no site, entendi que o EPR deveria deve ter filtro para VAPOR, e não para POEIRA, NÉVOAS E FUMO, este raciocínio está correto?

    • Cibele Flores disse:

      Olá, Maria Terezinha.
      Evitamos aqui responder dúvidas sobre situações pontuais porque é difícil dar uma resposta exata sem fazer uma análise da tarefa in loco.
      Imagino que você tenha lido a FISPQ (e não somente a ficha de emergência) dos medicamentos. Se ali não tiver a informação detalhada sobre a proteção respiratória, sugiro que você busque a FISPQ da versão europeia do produto. Normalmente lá se acha a informação completa.
      Até mais!

  21. Mauro Cezar Cardoso disse:

    Excelente artigo. Muito esclarecedor!!!

  22. José Carlos Augusto disse:

    Cibele, Muito bom seu trabalho!
    Minha dúvida é como classifico a poeira normal, essa que existe no ar, em qualquer local (Que houver poeira, claro). Que “poeira” é essa, em minha documentação? Como eu a descrevo?

    • Cibele Flores disse:

      Olha, não sei. Poeira tipo a que acumula nos móveis em casa?
      Se for: você acha que ela constitui um risco ocupacional?
      Vou deixar a pergunta aqui para ver se algum colega responde sua dúvida. 😉
      Até mais!

  23. Mineirinho disse:

    Olá Cibele!
    O gás metano, oriundo de bolsões subterrâneos, se classifica como o que, então? Fiquei um pouco confuso hahah

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