Ventilação Local Exaustora: Quando Usar e Como Não Errar.

Quando se fala de controle da exposição a riscos químicos, a ventilação industrial (incluindo a ventilação local exaustora) ocupa lugar de destaque.

No entanto, muitos prevencionistas não estão familiarizados com conceitos fundamentais ligados ao tema, levando a omissões ou a erros com graves consequências.

O tema é fundamental, já que um sistema de ventilação adequado irá:

– Proteger o funcionário em seu posto de trabalho, tendo prioridade sobre o uso de EPI e outras medidas individuais e administrativas (ver itens 9.3.5.2 e 9.3.5.4 da NR-9);

– Reduzir a concentração de contaminantes no ambiente de trabalho como um todo.

Então hoje conversaremos sobre os principais aspectos que você deve conhecer sobre ventilação industrial. Ao final da leitura, você:

  • Conhecerá as duas grandes áreas em que se divide a ventilação industrial: ventilação geral e ventilação local exaustora;
  • Saberá quando se pode usar a ventilação geral, e quando ela não é suficiente;
  • Conhecerá os três principais erros que muitos profissionais cometem ao implantar um sistema de ventilação – e, assim, poderá evitá-los;
  • Entenderá a relação entre a ventilação industrial e o PPRA.

Além disso, em tempos de eSocial, uma preocupação cerca os prevencionistas: como responder de forma correta a pergunta “O EPC é eficaz?“…

Esse artigo ajudará você a responder essa questão! 😉

Vamos lá!

Ventilação Geral

A ventilação geral tem como principais objetivos:

  • Manter o conforto e a eficiência das pessoas;
  • Conservar em bom estado materiais e equipamentos (como subestações elétricas e locais de instalação de compressores, de motores a diesel e de geradores e motores elétricos);
  • Auxiliar na redução da concentração de contaminantes nos locais de trabalho.

A ventilação geral pode, ainda, ser classificada como natural ou como geral diluidora.

A ventilação natural é aquela que se faz através de janelas, portas etc, sem utilização de meios mecânicos.

Já a ventilação geral diluidora é aquela que se dá através de insuflação e exaustão, com uso de ventiladores.

Para adotar ventilação geral, é necessário que alguns aspectos sejam observados:

  • Os trabalhadores devem estar afastados do fluxo de ar contaminado;
  • A toxicidade dos contaminantes deve ser baixa (limites de exposição maiores que 100 ppm, segundo o Industrial Ventilation da ACGIH);
  • A geração dos contaminantes deve ser uniforme.

Agora reflita, com sinceridade: você certamente já viu casos em que os requisitos acima não foram atendidos e, mesmo assim, foi utilizada ventilação geral. É necessário corrigir essa situação.

Assim, quando as condições anteriores não forem cumpridas, é necessário adotar outra forma de ventilação…

Ventilação Local Exaustora

É aquela que se dá junto à fonte de contaminantes, e que deve ser utilizada nas hipóteses em que a ventilação geral não é aceitável.

Os principais componentes de um sistema de ventilação local exaustora (SVLE) podem ser vistos na figura a seguir.

Fonte: Adaptado de HSE, "Clearing the air".

Fonte: Adaptado de HSE, “Clearing the air”.

Essa estrutura pode assumir diversas formas, dependendo da tarefa a ser executada. Veja exemplos na imagem a seguir. Será que algum deles pode ser usado no seu local de trabalho?

Fonte: Adaptado de HSE, "Clearing the air".

Fonte: Adaptado de HSE, “Clearing the air”.

As imagens apresentadas foram obtidas através do Health and Safety Institute, do Reino Unido. O site do HSE é uma fonte valiosa de informações sobre quaisquer assuntos ligados a SST e Higiene Ocupacional.

Sobre ventilação local exaustora, recomendo a mini-publicação Clearing the air. Vale muito a pena fazer download e buscar por mais publicações do HSE sobre o tema.

Como Evitar os Principais Erros em Sistemas de Ventilação?

  1. Cuidando para não criar novos riscos.

Quando se adota qualquer medida de controle, devemos garantir que ela não gere riscos novos.

Por exemplo, é comum que os ventiladores sejam instalados no interior das fábricas, o que aumenta o nível de ruído no local.

  1. Analisando cuidadosamente a tarefa executada.

Pode parecer óbvio, mas não é.

Muitas vezes, não se considera o modo pelo qual os trabalhadores realizam as tarefas.

É muito comum, ainda, encontrar coifas instaladas sobre as cabeças dos trabalhadores. Nesse caso, o ar contaminado flui em direção à zona respiratória do trabalhador, agravando a exposição!

Fonte: FUNDACENTRO, "Ventilação Local Exaustora em Galvanoplastia".

Fonte: FUNDACENTRO, “Ventilação Local Exaustora em Galvanoplastia”.

Outro erro comum é não avaliar corretamente a distância entre o captor e o local de geração de contaminantes.

Vamos considerar um duto de diâmetro “d”. A uma distância igual a “d” da entrada do captor, a velocidade de captura será de, aproximadamente, apenas 10% da velocidade na entrada desse captor.

A informação consta da publicação Ventilação Local Exaustora em Galvanoplastia, da Fundacentro, de onde também extraímos a seguinte imagem, que ilustra o conceito.

QUEDA DE VELOCIDADE CAPTURA _ FUNDACENTRO

Fonte: FUNDACENTRO, “Ventilação Local Exaustora em Galvanoplastia”

Assim, é preciso saber onde irá realmente ocorrer a geração de contaminantes, para que nesses pontos a velocidade de captura, já considerando a distância ao captor, seja suficiente para uma operação eficaz do sistema.

  1. Não basta instalar: manutenção é fundamental!

Infelizmente, é comum encontrar empresas que fizeram um grande investimento em um sistema de ventilação local exaustora que, em poucos anos, se torna praticamente inútil.

Isso acontece porque a manutenção do SVLE não foi vista como prioridade, e é um grande erro. Com o tempo, a falta de manutenção nos ventiladores, a falta de troca dos filtros e o acúmulo de particulado nos dutos vão tornando o sistema ineficaz.

Assim, desde a etapa de projeto devemos pensar na manutenção, que deve estar integrada ao sistema de manutenção geral da empresa.

Ventilação Industrial e o PPRA

Os sistemas de ventilação, em especial os SVLE, devem constar do PPRA da empresa, já que são medidas de controle de riscos ambientais.

Quanto a isso, dois aspectos merecem destaque:

  • São medidas de caráter coletivo e, como tal, têm preferência em relação às medidas individuais, como o uso de EPI;
  • Os critérios para avaliar a eficácia do sistema de ventilação devem estar descritos no documento-base do PPRA.

Diz o item 9.3.5.6 da NR-9:

O PPRA deve estabelecer critérios e mecanismos de avaliação da eficácia das medidas de proteção implantadas considerando os dados obtidos nas avaliações realizadas e no controle médico da saúde previsto na NR- 7.

Assim, além das avaliações realizadas (como da velocidade de captura e da concentração de contaminantes, quando necessária), os resultados dos exames médicos devem ser levados em consideração.

Mais uma vez, fica demonstrada a importância da articulação entre o PPRA e o PCMSO. Um não faz sentido sem o outro.

Conclusão

O post pretendeu apresentar os conceitos ligados a ventilação industrial que um prevencionista não pode deixar de conhecer.

Se você quiser saber ainda mais, recomendo a leitura da publicação Ventilação Local Exaustora em Galvanoplastia, da Fundacentro.

Ao contrário do que o título indica, a publicação não trata apenas de galvanoplastia, sendo útil para avaliar qualquer atividade em que haja ventilação local exaustora.

Já o dimensionamento de um sistema de ventilação, com a escolha de ventiladores, dutos, captores etc, é uma atividade mais complexa, que deve ser executada por profissionais habilitados.

Para quem deseja se aprofundar mais no assunto, sugiro que comece pelo livro Ventilação Industrial e Controle da Poluição, do prof. Macintyre. Ele está esgotado em alguns lugares, mas penso que na Amazon ainda deve ter:

Se o seu francês dá para o gasto, também pode consultar a publicação gratuita Principes généraux de ventilation, do Institut National de Recherche et de Sécurité (INRS), disponível aqui:

https://www.inrs.fr/media.html?refINRS=ED%20695

Também vale recordar que teremos que informar ao eSocial se o local de trabalho tem EPC eficaz. Os erros apontados nesse post poderiam ajudar a detectar um EPC ineficaz. 😉

Estude e aprenda sempre! Assim, você poderá atuar de maneira mais qualificada para preservar a saúde dos que estão sob seus cuidados.


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Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

14 Resultados

  1. Dyonatan Fortunato disse:

    Show de bola!
    Feriado aqui na cidade hj, estou aproveitando pra “saber mais” obrigado Cibele por nos proporcionar esse conhecimento.

  2. Rafael disse:

    ola, estou fazendo um projeto de ventilação local exaustora, o problema é que o contaminante é inflamável e explosivo, como descobrir o filtro certo para nao ter riscos?

    • Cibele Flores disse:

      Olá, Rafael!
      Não sei qual a sua formação, mas sugiro que você procure bibliografia da área ou um especialista, já que o assunto é bastante sério.
      Bom trabalho!

    • Milena disse:

      também estou com a mesma dúvida rafael, achou a resposta p seu problema? se sim, entra em contato cmg para dividirmos informações e talvez resolvermos o nosso problema em comum.

  3. Massude Afonso disse:

    Parabéns pelo excelente contecudo que aqui nos é exposto. muito bem organizado, muito didático.
    saudações.

  4. Vagno Gomes Correia disse:

    Olá Cibele Flores!

    Parabéns pelo excelente conteúdo!!!
    Quais as normas ABNT regem esse assunto de ¨ventilação industrial local exaustora¨ ? Estou fazendo uma pesquisa…obrigado!

  5. Antonio Aurélio do Amaral disse:

    “SENTA E CONECTA”. Conforme carta dos 239 cientistas de 32 países, a contaminação COVID é predominantemente pelo ar infectado (ninguém tossindo ou espirrando) pois as pessoas não acreditam no que não veem. “Aerodispersóides” (tive que clicar em adicionar ao dicionário…) ninguém ouviu falar. Aerossóis todos pensam no tubo de desodorante ou inseticida. A medida usual “mpppc” (milhões de partículas por pé cúbico) o que é?
    Há 40 anos fui admitido numa indústria onde já era velha uma rede de captação de ar nos pontos de geração e, como numa grande árvore horizontal, o ar poluído convergia para um coletor principal que chegava a um “filtro automático”(*) e através deste “puxado” por um ventilador industrial. (*) Depuração automática por jatos de ar no contra fluxo uma manga por vez e uma válvula rotativa sob a parte inferior onde se acumulava o poluente sólido. INVERTA-SE hoje esse sistema e se pode levar um ponto de ar puro para cada poltrona de teatro, cinema, templo, sala de aula, etc. onde as pessoas, usando máscaras hemifaciais transparentes com filtro na parte inferior e uma conexão para “ar mandado”, se sentam e conectam suas máscaras. A pressão positiva e a filtragem, na tomada de ar externa ao ambiente, garante a não contaminação. As atuais máscaras usadas até por autoridades e (incrível!) por médicos infectologistas, além da população em geral, apenas reduzem a chance de contaminação. Mas ninguém acorda da fantasia dessas máscaras. Cada vez mais bonitinhas…

  6. Antonio Aurélio do Amaral disse:

    OS ENGENHEIROS DE SEGURANÇA APRENDIAM EM SEUS CURSOS A CALCULAR UMA REDE DE EXAUSTÃO. A “BIBLIA” DO ASSUNTO, para quem quisesse trabalhar nisso (projetos), era o manual americano “INDUSTRIAL VENTILATION”. Assim, dependendo do local, poder-se-ia ter uma série de pontos de geração de poluição com as devidas “ventilação local exaustora”, porém o ar lançado na atmosfera saia limpinho. Tudo ficava num tambor sobre rodas, conectado por uma “saia vedante” à saída da válvula rotativa. Esta válvula impedia que o tambor fosse succionado. Os filtros de limpeza automática eram alemães Buehler, redondos, depois substituídos pelos americanos “Mikropull”, quadrados. Estes tinham o tamanho aproximado de uma Kombi com a dimensão maior na vertical. Mensalmente eu fazia a leitura do manômetro diferencial para avaliar a saturação das mangas e, “se meu gráfico pedisse”, enviava ordem de manutenção para a substituição das mesmas, feitas num domingo com o pessoal devidamente protegido e cumprindo um protocolo de segurança e descarte ambientalmente correto.

    • Cibele Flores disse:

      Que belo registro, Antonio!
      Hoje não se ensina quase nada de ventilação nos cursos, e o resultado é o que vemos por aí… 🙁
      Muito obrigada pelo comentário!

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