Omissão de Uso do Protetor Auditivo e Efeitos sobre a Atenuação Real

A avaliação da exposição ao ruído é um assunto polêmico no Brasil há anos.

Temos aquela confusão nos fatores de dobra, as discussões sobre a validade do EPI como “justificativa” para o não pagamento de adicional de insalubridade e para o não enquadramento na condição de aposentadoria especial…

Polêmicas à parte, não podemos esquecer o que somos: prevencionistas. Devemos nos preocupar em entender os aspectos técnicos dessas discussões, para tomar decisões acertadas e que venham a proteger a saúde de quem está sob nossos cuidados.

Sobre o uso dos protetores auditivos, há um aspecto que raramente discutimos: a redução da atenuação provocada pela omissão do uso do EPI. E não estamos falando de não usar por completo, durante uma jornada inteira: até uma omissão de 5 minutos pode prejudicar demais a eficácia do EPI!

Atenuação em situações reais de uso

Em geral, quando queremos saber a atenuação proporcionada por um protetor, já trabalhamos direto com o NRRsf. Em geral, ele está informado pelos fabricantes na embalagem do EPI ou no seu CA.

Esse número já leva em consideração as diferenças entre os resultados de atenuação medidos em laboratório daqueles efetivamente obtidos no campo, não sendo necessário fazer todas aquelas correções que se aplicam quando usamos o NRR.

No entanto, o NRRsf não traz em si, obviamente, nenhuma correção para o tempo de uso real… Então, se eu deixar de utilizar meu protetor auditivo por 5 minutos, isso influencia alguma coisa na atenuação que terei ao longo da jornada?

Sim. E muito!

Veja a figura a seguir, retirada do Capítulo 11 da publicação Occupational Exposure to Noise: Evaluation, Prevention and Control, da OMS.

Redução no NRR provocado pela omissão do uso

Podemos ver como a atenuação cai consideravelmente, mesmo diante de pequenas omissões no uso do EPI.

Veja também esse gráfico, apresentado pela 3M:

No exemplo assinalado na figura, se vê que para um protetor com NRR atribuído de 25 dB, uma omissão de 15 minutos no tempo de uso faz com que o NRR corrigido seja de apenas 20 dB!

Se você quiser “brincar” de quanto a atenuação diminui em função do tempo, dê uma olhada nesse link do HSE:

http://www.hse.gov.uk/noise/hearingprotection/index.htm

Nesse link, é possível mexer no tempo em que o EPI não é usado por hora trabalhada. Em resposta, vemos a atenuação resultante, no caso de um EPI com NRR atribuído de 25 dB.

E agora?

O objetivo de eu contar essa história não é fazer ninguém ficar enlouquecido atrás dos trabalhadores para medir quanto tempo eles ficam sem usar o EPI…

É, sim, mostrar que não podemos ser simplistas a ponto de assumir que teremos, “na vida real”, toda a atenuação informada pelo fabricante do protetor auditivo.

Mesmo que o trabalhador usasse o EPI o tempo todo, ainda assim ele não conseguiria obter a mesma atenuação apontada no CA, que é medida em laboratório. Isso porque, entre vários motivos, o trabalhador não é treinado adequadamente para o uso do protetor, ou usa um tamanho inadequado, ou um já deteriorado*…

Isso só reforça a necessidade de sempre esgotar as medidas de controle de engenharia para a exposição ao ruído (e quaisquer outros agentes).

Claro que o ruído não é o agente mais fácil do mundo de ser controlado. No entanto, há muitas medidas simples (e não muito caras) que poderiam reduzir bastante a exposição dos trabalhadores ao agente. 

Nesse artigo aqui, apresentamos algumas delas:

Ruído: Medidas de Controle da Exposição

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*Sobre esse assunto, vale citar o ótimo livro Protetores Auditivos, do prof. Samir Gerges, que é bastante esclarecedor – principalmente quanto à seleção e quanto às limitações no uso:

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

6 Resultados

  1. Dyonatan Fortunato disse:

    Muito bom!

  2. Anderson disse:

    Espetacular como esse site traz conteúdo técnico, complexo e com uma clareza formidável!
    Obrigado

  3. Gustavo disse:

    Muito bom !!!

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Nele, respondemos aquelas perguntas que quase todo prevencionista tem sobre Vibrações:

– É sempre necessário medir a exposição a vibrações? Quais as normas que tratam do assunto?

– Por que se usam dois indicadores para avaliar a exposição às vibrações de corpo inteiro? É obrigatório usar os dois?

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