Autoauditoria em 5 Passos: Controle da Exposição a Substâncias Perigosas

De tempos em tempos, temos assuntos que acabam tomando a atenção dos colegas prevencionistas.

Há um tempo atrás, era a implantação do eSocial. Compatibilidade de sistemas, prazos, como apresentar as informações sobre a exposição a agentes químicos e ruído…

Agora, é a elaboração do PGR. Quais os documentos necessários? Como fazer o Inventário de Riscos?

Nesse turbilhão, infelizmente, acaba-se esquecendo do mais importante: garantir que as exposições estejam efetivamente controladas!

Afinal, de que adianta adaptar os sistemas ao eSocial, imprimir um PGR em papel de alta qualidade e colocá-lo em um belo fichário e, na hora da verdade, se constatar que a situação na empresa é de descontrole total?

Se algo tem que ser priorizado, que seja o controle.

Para ajudar você nesse processo, usamos como referência o que está proposto no Health and Safety Toolbox do HSE. Já comentei que adoramos o HSE, certo? 🙂

Assim, siga essas 5 etapas e comece a autoauditar o “núcleo” do seu PPRA (que é bem mais que o livrinho e ainda está em vigor!).

Isso vai ajudar você a estruturar o seu PGR de forma correta, no que se refere aos agentes químicos, e ficar mais tranquilo diante desse bicho-papão. 🙂

Vamos lá!

Autoauditoria Relâmpago: 5 Passos!

1. Quais as substâncias perigosas que existem no ambiente de trabalho?

É comum que, em uma caminhada pela empresa e em entrevistas com os trabalhadores, você descubra que estão sendo usadas substâncias que nem sabia que estavam lá!

Anote todas elas e providencie as FISPQas fichas de emergência não são suficientes para o prevencionista!

Não esqueça que pode acontecer de haver a formação de substâncias perigosas durante o processo produtivo.

É o caso de operações de corte de pedra ou madeira, de operações em que há aquecimento excessivo de plásticos e borracha e outras. Isso não pode ser desprezado! 😉

2. Como os trabalhadores são expostos a essas substâncias perigosas? Quais os riscos à sua saúde?

A exposição pode ocorrer, basicamente, por inalação e através do contato com a pele. Observe como a atividade está sendo realizada e verifique como a exposição ocorre.

Eventualmente poderá ocorrer a ingestão da substância perigosa, mas isso em geral pode ser resolvido com medidas de higiene como lavar as mãos antes das refeições e não comer no local de trabalho.

Conhecendo as substâncias perigosas e como os trabalhadores estão expostos, identifique os possíveis danos à saúde que poderão ocorrer. Isso deve estar nas FISPQ ou pode ser encontrado na literatura.

O que é o GHS?

3. O que está sendo feito para prevenir o dano que essas substâncias podem causar? Isso é suficiente? E mais: essa substância pode ser substituída por outra menos nociva?

Enquanto estiver identificando os riscos, veja o que está sendo feito para controlar a exposição… Tem ventilação (local ou geral)? Há uso de EPIs (respiradores, luvas, óculos…)? Anote e fotografe!

Em muitos casos é evidente que as medidas de controle não são suficientes – especialmente se elas não existirem, claro! 😉

Em outros casos, você só terá essa percepção quando ler a FISPQ, especialmente o item 8.

E, outras vezes, você poderá ter que fazer alguma avaliação quantitativa para ver se os controles que existem estão funcionando bem.

Para saber um pouco mais sobre medidas de controle, leia o artigo:

Hierarquia das Medidas de Controle no PPRA e a “Cultura do EPI”

4. Os trabalhadores estão conscientes dos riscos e foram treinados para lidar adequadamente com as substâncias perigosas?

Os trabalhadores precisam conhecer as substâncias a que estão expostos e entender os possíveis efeitos sobre a sua saúde. Isso pode ajudar a diminuir a burla de proteções coletivas (como no caso dos soldadores que não usam a exaustão local, por exemplo) e a resistência ao uso de EPIs (desde que estes sejam realmente necessários).

Treinar adequadamente os trabalhadores (e não apenas colocá-los em uma sala para ser torturados com um monte de conteúdo genérico) contribui para desenvolver uma cultura de segurança real. Isso é muito mais do que criar uma pilha de papeis que não encontram reflexo na prática cotidiana.

5. A vigilância da saúde está sendo feita?

É importante que o acompanhamento médico seja realizado da forma correta, para que se possa observar se as substâncias perigosas estão causando algum dano à saúde do trabalhador.

O médico também deve verificar se o trabalhador está apto para a função que exerce, se tem alguma restrição ou se precisa de algum acompanhamento especial, como pode ser lido no Manual de Orientação sobre Controle Médico Ocupacional da Exposição a Substâncias Químicas, da Fundacentro.

E agora?

Aproveite esse pequeno roteiro para fazer uma autoauditoria relâmpago na sua gestão de riscos químicos – que é parte do seu PPRA e será parte do seu PGR.

Se você concluir que os controles são insuficientes, que falta treinamento para os trabalhadores ou algo do tipo, prepare um plano de ação com prazos aceitáveis e corra atrás das melhorias!

Esse é o objetivo de auditar: identificar as falhas para poder resolvê-las. 😉

Isso vale tanto para o atual PPRA quanto para o futuro PGR.

E observe que em nenhuma etapa desse roteiro falamos de itens de NR… Estamos apenas apresentando etapas lógicas, que devem fazer sentido para você.

Nossa legislação, no entanto, prevê que essas etapas sejam executadas! Veja a tabela a seguir, com os itens das NR correspondentes (atualmente em vigor):

Claro que essa tabela não pretende ser exaustiva e que esse roteiro não encerra o assunto… É apenas um exemplo de como a normatização reflete a técnica em HO.

Falaremos mais sobre isso e apresentaremos outros roteiros de autoauditoria em artigos futuros. 😉

Entendendo o que deveria ser feito tecnicamente e como isso está relacionado com as NR, você passa a enxergar o processo de implantação de outra maneira (tanto para o eSocial quanto para o PGR!).

E se você precisa aprender mais sobre autoauditoria, aproveite e conheça nosso Guia. É mais barato que uma pizza e vai tornar seu processo de auditoria muito mais fácil!

Não perca o foco do que realmente importa: preservar a saúde dos que trabalham com você.

Todo o resto vem depois.

Até a próxima!

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

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