Disruptores Endócrinos: O Que São? Como lidar?

Quando estamos identificando riscos em nossos ambientes de trabalho, às vezes acontece de lermos que determinados agentes são “disruptores endócrinos“.

Também ouvimos muito essa expressão quando se discutem os efeitos dos agrotóxicos sobre os humanos.

Não entender o que são disruptores endócrinos pode ter um efeito muito grave: subestimar o potencial negativo dessas substâncias.

Ao final desse artigo, você deverá saber:

O que são disruptores endócrinos?

Para começar a entender o que são disruptores endócrinos, precisamos primeiro entender rapidamente o que é o sistema endócrino.

Este é o sistema formado pelo conjunto das glândulas que produzem os hormônios, que são fundamentais para regular a atividade de vários órgãos do nosso corpo.

Segundo o artigo  “Disruptores endócrinos no meio ambiente: um problema de saúde pública e ocupacional”, de  João Roberto Penna de Freitas Guimarães:

Tais órgãos incluem os testículos, ovários, o pâncreas, as glândulas suprarenais, a tireóide, a paratireóide, a pituitária e o tálamo.

O hipotálamo, centro nervoso localizado abaixo do cérebro, faz constante controle das quantidades dos diferentes hormônios circulantes, enviando mensagens às glândulas.

Assim, nosso sangue é inundado por hormônios que controlam o funcionamento não apenas do sistema reprodutor, mas da saúde como um todo, coordenando as ações de órgãos e tecidos, para que trabalhem afinados (COLBORN et al, 2002).

Imagem extraída da publicação Endocrine Disruptors – Solutions to New Challenges, do ISTAS.

Os hormônios regulam todo o funcionamento do nosso corpo. Nosso crescimento, a velocidade do metabolismo, nossa taxa de açúcar no sangue… Isso sem esquecer dos fundamentais estrogênio, progesterona e testosterona!

Então os disruptores endócrinos, também chamados de interferentes endócrinos ou desreguladores endócrinos, são agentes e substâncias que alteram o funcionamento desse sistema, podendo “bagunçar” bastante nosso corpo. 

Como os disruptores endócrinos atuam?

Basicamente, os disruptores endócrinos podem atuar no nosso corpo de 3 formas:

  • Imitando a ação do hormônio “de verdade”, provocando reações químicas semelhantes no corpo; 
  • Bloqueando os receptores nas células que recebem os hormônios, impedindo a ação dos hormônios “de verdade”; 
  • Alterando a produção, o transporte, o metabolismo e a excreção dos hormônios.
Imagem extraída do artigo Interferentes Endócrinos no Organismo, de Gislaine Ghiselli e Wilson F. Jardim,  Quim. Nova, Vol. 30, No. 3, 695-706, 2007.

Segundo o estudo Endocrine Disruptors – Solutions to New Challenges, do ISTAS, os disruptores endócrinos têm características especiais que tornam as tradicionais ferramentas de avaliação de riscos inadequadas para proteger os trabalhadores e o ambiente, tais como:

  • podem ter efeitos mesmo em doses muito baixas;
  • certos períodos do desenvolvimento humano são particularmente vulneráveis à sua ação e a exposição durante esses períodos pode provocar efeitos à saúde para toda a vida;
  • sua relação dose-resposta não é linear;
  • podem afetar futuras gerações;
  • podem ter longos períodos de latência.

Por que é difícil achar informações sobre disruptores endócrinos e exposição ocupacional a eles?

Porque a indústria química “anda rápido”.

A velocidade da criação de produtos é muito maior que a do estudo de seus efeitos, principalmente aqueles de longo prazo.

Temos casos de produtos que foram considerados maravilhosos e inovadores quando sintetizados ou quando alguma propriedade nova foi descoberta, e que só depois de anos tiveram seus graves efeitos nocivos descobertos. 

Como exemplo, podemos citar os casos do DDT, do Ascarel, da clordecona e do amianto (que é um ótimo isolante térmico).

Sobre os disruptores endócrinos, a publicação “State of the science of endocrine disrupting chemicals” da ONU aponta entre as preocupações principais:

A grande maioria dos produtos químicos atualmente em uso comercial ainda não foi testada.

Essa falta de dados introduz incertezas significativas sobre a verdadeira extensão dos riscos de produtos químicos que potencialmente poderiam interferir no sistema endócrino.

Em 2018, houve a definição pela Comissão Europeia dos critérios científicos para a determinação das propriedades desreguladoras do sistema endócrino.

Lá se estabeleceu o prazo até 2025 para avaliar a experiência adquirida com a aplicação desses critérios, como se vê aqui:

https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32017R2100&from=EN

Em resumo: ainda temos grandes lacunas de conhecimento nessa área, o que nos deixa, como prevencionistas, numa situação delicada.

Ao mesmo tempo em que não podemos ser alarmistas e reacionários, devemos ser cautelosos e precavidos, reduzindo as exposições a agentes que ainda não foram plenamente estudados ou que são notoriamente nocivos.

Afinal, temos responsabilidade com as vidas que estão sob nossos cuidados. 🙂

Façamos todos um bom trabalho!


Se você quiser se aventurar nesse assunto, sugiro os seguintes links (em ordem aleatória).

Como em tudo na vida, cautela é recomendável na interpretação das informações. 😉

https://cb.imsc.res.in/deduct/home – Base de dados indiana que apresenta disruptores endócrinos separados por setores e por grau de evidência.

https://oshwiki.eu/wiki/Endocrine_Disrupting_Chemicals

https://endocrinedisruption.org/interactive-tools/tedx-list-of-potential-endocrine-disruptors/search-the-tedx-list

https://www.niehs.nih.gov/health/topics/agents/endocrine/index.cfm

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/trabalhador/pdf/texto_disruptores.pdf

https://www.who.int/ceh/publications/endocrine/en/

http://www.scielo.br/pdf/%0D/qn/v30n3/31.pdf

http://istas.net/descargas/disruptores_endocrinos-eng.pdf

https://www.ccohs.ca/oshanswers/chemicals/endocrine.html

http://istas.net/descargas/disruptores_endocrinos-eng.pdf

https://www.etui.org/content/download/24945/231768/file/endocrine+disruptors-web.pdf

https://europa.eu/rapid/press-release_MEMO-16-2151_en.htm

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

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