Grupo de Exposição Similar (ou Grupo Homogêneo de Exposição): O Que É? Para Que Serve?

O Grupo de Exposição Similar (ou Grupo Homogêneo de Exposição) é um conceito essencial no gerenciamento dos riscos ocupacionais.

Isso porque é impossível avaliar os riscos de forma individual, para cada trabalhador, tanto por restrições de tempo quanto de custos.

E essa avaliação por grupos de trabalhadores, além de tecnicamente correta, é acolhida pela nossa normatização:

Veja o item 1.5.4.3.1, “c”, da NR-01:

A etapa de identificação de perigos deve incluir:

(…)

c) indicação do grupo de trabalhadores sujeitos aos riscos.

A mesma previsão consta do item 9.3.1 da NR-9, alínea “f”. E ainda na NR-9, temos o item 9.4.2:

A avaliação quantitativa das exposições ocupacionais aos agentes físicos, químicos e biológicos, quando necessária, deverá ser realizada para:

[…]

b) dimensionar a exposição ocupacional dos grupos de trabalhadores.

No entanto, muitas vezes há um uso equivocado dessa possibilidade de agrupar os trabalhadores para avaliação.

Nesse post, vamos conversar sobre:

  • O que deve ser considerado para definir um GES/GHE (nesse texto, estarei usando os 2 termos de forma indistinta);
  • O principal erro que vemos no cotidiano.

Vamos lá!

Afinal, o que é um Grupo de Exposição Similar? Como defini-lo?

Segundo o livro “Uma Estratégia para Avaliar e Gerenciar Exposições Ocupacionais”, lançado pela ABHO a partir da 4a edição do livro da AIHA, um Grupo de Exposição Similar pode ser definido como:

“Um grupo de trabalhadores com o mesmo perfil de exposição geral para um agente, devido à semelhança e frequência das tarefas que executam, à semelhança dos materiais e processos com os quais trabalham e à semelhança da maneira como eles executam as tarefas.”

Para poder definir os GES com os quais trabalharemos, é fundamental uma boa caracterização básica.

E isso envolve não apenas a análise de documentos já existentes, de FDSs e as explicações dadas pelo representante da empresa que nos acompanha durante a visita, mas principalmente a nossa observação e entrevistas com os trabalhadores.

Seria possível também utilizar uma abordagem quantitativa, em que as exposições de muitos trabalhadores são medidas e os trabalhadores são distribuídos nos GES com base em uma análise estatística desses resultados2.

Para a maioria das empresas, porém, isso é inviável, então acaba-se focando na abordagem baseada na observação.

E como “organizar” essa observação?

Dividindo a análise do estabelecimento por processos (recebimento de matéria-prima, fracionamento, mistura etc, até a expedição do produto), e analisando as diferentes funções dentro de cada processo.

Essas funções devem também ser estudadas com cuidado: existem momentos com exposições “diferenciadas”? Um trabalhador que faça a manutenção de bombas usadas em uma indústria química, por exemplo, pode estar exposto, no momento de abrir uma bomba, a concentrações bem mais elevadas que a sua média.

É assim, um trabalho de “formiguinha”… indo de processo em processo, analisando cada função…

Ah, e essa definição não é escrita em pedra: nada impede que você, em algum momento, redefina os seus GHE diante de novos dados e observações.

E lembre-se de atualizar o inventário de riscos – afinal, ele não é um laudo, é um registro de um programa dinâmico!

Quais os principais erros ao definir um GHE/GES?

Antes de falar sobre erros, é bom destacar que não existe um “gabarito”. Pessoas com iguais níveis de julgamento poderão estabelecer GES diferentes, e eles poderão estar adequados!

No entanto, há sim um grande erro ao definir um Grupo de Exposição Similar: é justamente agrupar exposições que NÃO são similares!

E isso em geral acontece porque, para definição dos GES, muitos prevencionistas consideram apenas o cargo do trabalhador, sem se preocupar com a tarefa que cada um realiza.

Se, por exemplo, no setor “Produção” tem vários “auxiliares de produção”, muitas vezes eles acabam sendo jogados todos no mesmo grupo, independente do seu papel no processo produtivo.

Segundo o livro da AIHA/ABHO:

“Os cargos genéricos são cada vez mais utilizados na indústria. Não é incomum que talvez todos os funcionários de um departamento sejam identificados como “técnicos”. O higienista industrial deve olhar além da estrutura organizacional, para a divisão real do trabalho no local de trabalho.”

Evidentemente isso não vale apenas para o higienista. 😉

E agora?

Ao formar GHE/GES sem o devido cuidado, você corre o risco de camuflar alguma exposição inaceitável no meio das exposições aceitáveis. Ou, no mínimo, fazer um trabalho incompleto e sem grande utilidade.

Isso fere de morte o gerenciamento dos riscos e compromete o sucesso do nosso principal objetivo: garantir que as pessoas trabalhem em condições seguras.

Então o objetivo não é formar um Grupo Homogêneo de Exposição perfeito (até porque isso não existe!), mas sim estarmos seguros que construímos um cenário bem definido, que reflete a realidade, e que nos oferece subsídios para avaliar adequadamente os riscos e decidir os controles necessários de forma equilibrada, sem falta nem excesso.

Façamos todos um bom trabalho!


1,2 Uma Estratégia para Avaliar e Gerenciar Exposições Ocupacionais. AIHA/ABHO, 2021.

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

2 Resultados

  1. Rolfe disse:

    Olá Cibele, parabéns pelos seus textos! Estão sendo muito úteis. Já compartilhei com os colegas aqui do SESMT. Abraço!

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